João Gilberto Saraiva

desenvolvedor de software | professor | escritor


Sete anos e sete dias | João Gilberto Saraiva

Sete anos e sete dias

27-11-2022

Sete anos, sessenta e duas turmas, um pouco mais que dois mil e quinhentos alunos e em sete dias não exercer mais a profissão de professor.

Nos primeiros dias de 2016, eu recebi caneta, apagador, livros e alguns papéis na secretaria da escola e segui em direção a sala de aula para conhecer meus primeiros alunos. Aquele motociclista, de calça jeans, tênis e camisa preta não podia imaginar o que lhe esperava. Graças aos meus alunos de 10 a 67 anos, hoje sei que o ofício é o de ensinar mas o trabalho é o de aprender.

Sete anos me permitiram reencontrar a perspectiva radical pela qual os estudantes leem o mundo. Uma pitada de novo, de mágico e divertido sobre todas as coisas torna a realidade menos opaca e dura. Uma alta dosagem de energia e alegria realça o que há de vivo, estimula a perguntar: por quê? Não apenas para entender algo como ele é, mas também para imaginar como teria sido e o que poderá vir a ser.

Me fizeram lembrar que aprender é por um lado repetir muitas e muitas vezes, e em diversas velocidades, a mesma partitura para amanhã escrever sua própria música. Não há a fórmula mágica de se garantir o aprendizado, mas ser professor é justamente ter lenço e coelho dentro da cartola, conhecer os melhores atalhos e também os caminhos que levam a lugar nenhum.

Uma saga individual de descobrir como ensinar e aprender em que o coletivo foi meu professor: alunas e alunos, colegas docentes, coordenadores, zeladores e por vai. É impossível saber algo sem se apreender, desse modo, nessa jornada teve diversão, surpresa, tristeza, reconhecimento, decepção e muita experimentação.

Nada melhor para uma boa História do que embaralhar passado e presente, livros e computadores, reflexão e ação, artes e saberes distintos. Aprendi justamente a atuar nas fronteiras, o que me abriu e fechou muitas portas. É por uma delas que hoje mudo formalmente de profissão.

Aprendizado é experiência e transformação. Aquele jovem professor descobriu isso construindo a sua vida, estudou muito, conheceu sua futura esposa (também docente), construiu sua casa, perdeu uns quilos, casou, ganhou entradas no cabelo, foi pai. João mudou de lar duas vezes, viajou não sei quantas outras. Ele aprendeu e se transformou.

Hoje é mais um dia para, como diz o compositor, “viver a divina comédia humana onde nada é eterno”. Depois de sete anos em sala de aula, sete dias de processo seletivo para desenvolvedor de software.

Um até logo para a docência, sem nunca abrir mão do aprendizado.

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Imagem: “Huge graffiti of number 7” de Horia Varlan. Fonte: Open Verse, Flickr, Creative Commons 2.0