João Gilberto Saraiva

desenvolvedor de software | professor | escritor


Crescimento e diversidade nas comunidades de tecnologia | João Gilberto Saraiva

Crescimento e diversidade nas comunidades de tecnologia

11-11-2023

Seja nos pequenos ou grandes eventos, é muito bom ver as comunidades de tecnologia a todo vapor. Encontrar pessoas que conheço palestrando, assistindo e debatendo é bem legal, mas é melhor ainda ver novas pessoas - estudantes, profissionais migrando de área, ativistas e curiosos - participando. É certo que sem o fator N, uma quantidade mínima de pessoas interessadas em um tema específico, os grupos desaparecem. Só que o ponto aqui é outro, com novos atores as comunidades crescem não apenas em número, como também em vivacidade.

Nos eventos é perceptível que cada vez menos as comunidades de tecnologia como pequenos mundos à parte, e mais organismos dentro de um ecossistema. Um exemplo é a simbiose, cada vez mais comum, com empresas e instituições de ensino na realização de encontros, meetups, coding dojos, etc. Gurus do mundo digital já afirmaram que, em um futuro próximo, todas as empresas, independentemente do setor, serão empresas de tecnologia. Não sei se é para tanto, mas é certo que eventos como a pandemia de coronavírus aceleraram a transformação digital das sociedades e que a participação da área no PIB global é cada vez maior. Há um fluxo considerável de trabalhadores - a minha história pessoal é um exemplo - que estão migrando para o campo da tecnologia.

Essa injeção de dinheiro e exposição na mídia foi acompanhada também - nem sempre no mesmo passo - pelo interesse dos governos. A expansão do número de vagas e da interiorização de cursos técnicos e superiores na área é um exemplo de política pública que se reflete no crescimento das comunidades de tecnologia. E quando digo expansão, não estou falando apenas do aumento do número de pessoas que participam das comunidades. São novos temas e nichos, como games, participação feminina, tecnologias de assistência e outros. O caldeirão das ideias é enriquecido com a diversidade de pontos de vista e experiências. Essa diversidade proporciona novas aplicações, novos olhares para velhos paradigmas e conexões surpreendentes entre saberes e campos distintos.

Já tive a oportunidade de participar de comitês e grupos de institutos e órgãos públicos que trabalham com temas relacionados a tecnologia e inclusão. Um diagnóstico claro nesses espaços é visível a olhos nu em eventos: as comunidades de tecnologia são bem mais brancas, masculinas e elitizadas que a sociedade como um todo. E quando você observa o quadro funcional das empresas - em que o corte social e de idade se eleva - a discrepância é ainda mais aguda. As razões dessa desigualdade são complexas e há iniciativas variadas para mudar essa situação, como a criação de vagas afirmativas e o surgimento de comunidades voltadas para grupos específicos, abaixo listo algumas delas. É certo que, à medida que as comunidades de tecnologia se expandem, elas também se tornam mais diversas. Uma transformação que deve ser celebrada, incentivada e defendida por todos que acreditam em um mundo mais inclusivo e não segregado por barreiras como raça, etnia, deficiência e gênero.

Para que a inclusão não seja apenas um discurso vazio, precisamos agir para melhorar a qualidade das comunidades de tecnologia que participamos. Não basta as pessoas serem bem-vindas, precisamos construir um ambiente acolhedor para todos, inclusive iniciantes. Um espaço acolhedor e aberto ao debate e aprendizado é essencial para a saúde da comunidade. Tomo como exemplo, o incentivo a participação e a atenção dada a quem está começando no chat e eventos do GRUPY-RN.

No livro “O universo da programação”, o William Oliveira dedica um capítulo específico às comunidades de programação, explicando o que são, como aproveitá-las e como construir um ambiente acolhedor e respeitoso. Destaco dois textos pequenos do William sobre o tema, que dão o tom do que ele aborda no livro: “Não desanime das comunidades de programação” e Não seja um(a) babaca de comunidade. Além dos fatores comportamentais, como a construção de um diálogo aberto e receptivo, é importante também tomar ações práticas para promover a inclusão nas comunidades de tecnologia. Por exemplo, nos eventos do próprio GRUPY-RN, há atenção para o cardápio e o barulho das palmas para atender participantes com necessidades específicas.

Algumas iniciativas legais relacionadas a diversidade no mundo da tecnologia:

Imagem: Communication - ArtPrize 2010. Fonte: Open Verse, Creative Commons 2.0