Encontrar, conhecer e celebrar: dois dedos de café e prosa
Transformar café em código é um mote estampado em canecas e camisetas que vemos por aí sobre a vida de quem trabalha com TI. Eu faço parte desse grande grupo de programadores amantes da cafeína, mas a frase também remete à rotina. Quando perguntamos a um programador como é seu dia a dia, geralmente escutamos sobre muitas horas de reuniões, leitura e revisão de código, pesquisa por respostas nem sempre claras e úteis. Há relatos sobre estresse, dor nas costas, noites mal dormidas, insônia, síndrome de impostor - por vezes, depressão e burnout também - além de xícaras e mais xícaras de café. É claro que isso é apenas uma parte do todo, que também envolve aspectos positivos, como salários mais altos que a média, possibilidade de trabalho remoto e benefícios variados. Seja como for, a rotina é uma repetição de ações na frente de telas, com uma xícara na mão. No caso do trabalho remoto, esse é praticamente o único meio de interação com os colegas.
Na prática, a relação laboral também se torna pessoal. De colega de trabalho a amigo? Nem sempre, mas são oito horas por dia de contato. Você conhece o outro e demonstra - mesmo que inconscientemente - seu jeito de falar e pensar, gostos, humor, qualidades e defeitos, alegrias e tristezas de esferas para além daquela pela qual te pagam um salário. Nesse sentido, eu nunca tive a oportunidade de agradecer pessoalmente a diversas pessoas que me ensinaram muito e me apoiaram, nem reconfortar - para além do contato via apps - os infortúnios da vida profissional e pessoal de outras. Há também quem diga que não é possível conhecer de verdade alguém por meio de uma máquina conectada a Internet. Eu particularmente sou desses, gosto de olhar com atenção, em algum lugar atrás das retinas onde mora o pequeno universo de cada um. Dizer que os olhos são janelas para a alma é uma expressão já antiga e bem gasta, mas verdadeira.
É curioso o encontro entre a imagem que fazemos de alguém que conhecemos apenas online e a realidade. Pode haver um instante de dúvida entre um aperto de mão ou abraço, se a conversa será levada com mais ou menos intimidade, se a pessoa é mais tagarela ou tímida do que imaginávamos. Há um encontro entre a imagem que fazemos da pessoa - altura, peso, roupas, jeito de ser e sotaque - e a que está ali, provavelmente também processando esse desencontro entre algum nível de idealização e a realidade.
Semana passada tive a rara oportunidade de conhecer pessoalmente a sede e o time da Performa IT, dos colegas mais próximos até as lideranças. Achei bem legal, claro, a viagem, trabalhar nas bancadas coletivas, o cantinho do café e a gaveta de guloseimas, tratar pessoalmente algo que seriam mensagens no chat, etc. O que achei incrível mesmo foi poder de conhecer as pessoas, apertar a mão, jogar conversa fora, almoçar e pegar um transporte falando da vida e do trabalho. É muito bom ter a chance de contrastar as imagens que tinha na cabeça com as pessoas de carne e osso, com suas características e manias. No mesmo passo, sair das questões cotidianas e celebrar nossas conquistas do ano. Se reunir e poder brindar o que fizemos é dar mais sentido às quarenta horas semanais de código e reuniões regadas às incontáveis xícaras de café na frente do computador. É a oportunidade de conversar, rir, escutar música, dançar, enfim, vivenciar algo juntos. Nem todos são tocados por essas experiências da mesma forma, mas é certo que as percepções de si e dos outros se alteram, pelo menos um pouco, depois delas. Sou grato pela experiência e que tenhamos muitas oportunidades de nos encontrar, conhecer e celebrar!
Imagem: Working hard for a cup of coffee de R. Halfpaap . Fonte: OpenVerse - licença Creative Commons 2.0.