A mágica
De certa feita, um coelho branco, de olhos vermelhos e orelhas pontudas adornadas com conchas rosas, contou-me que certa vez perguntou a um mágico como ele o retirava da cartola. O homem de fraque titubeou, sem resposta na ponta da língua. Esboçou com as mãos o movimento de quem tira compras de uma sacola, coçou a cabeça e, sem jeito, mostrou as palmas das mãos para confessar que não sabia.
Ora, ora, você deve estar pensando que não existe coelho branco que fale, nem mágico que não saiba como as coisas aparecem em sua cartola antes de virem a público, em um encontro marcado com os aplausos. No entanto, creia, foi mesmo um coelho branco que me contou que o mágico o retira de sua cartola preta, em um misto de fé e surpresa cotidiana, sem saber como. Não há mistério, apenas a mágica de que existir é mesmo o exercício de uma impossibilidade.
Berlim, inverno de 2024.
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Imagem: Magic Rabbit de Gwydion M. Williams. Fonte: Open Verse, Creative Commons 2.0